No nosso primeiro episódio do podcast “Anjos Mentirosos”, a história de um fazendeiro que trocou água por panquecas com seres de um ‘disco voador’ serviu como nosso gancho para iniciar a conversa a respeito dos setranhos comportamentos dos supostos tripulantes de “discos voadores”. Mas aquele resumo foi apenas a ponta do iceberg. Este caso é real, documentado e classificado como ‘Não Identificado’ pela Força Aérea dos EUA. Se você ficou curioso para saber mais detalhes dessa história que desafia a lógica, preparamos aqui um dossiê sobre o incrível e absurdo encontro de Joe Simonton.

Na vasta e muitas vezes sombria tapeçaria da Ufologia, repleta de relatos de abduções aterrorizantes e conspirações governamentais, um caso se destaca por sua simplicidade quase cômica e sua profundidade desconcertante. Não envolve lasers, ameaças ou segredos de estado. Envolve panquecas.
Este é o caso de Joe Simonton, um fazendeiro de 60 anos de Eagle River, Wisconsin, que em 18 de abril de 1961, teve um encontro que se tornaria um dos mais bizarros e, paradoxalmente, mais bem documentados e credíveis da história do Projeto Blue Book. A história de Simonton é um estudo de caso perfeito para a filosofia do nosso podcast, “Anjos Mentirosos”, pois nos força a confrontar o “fator absurdo” do fenômeno OVNI.
O Encontro na Fazenda
Na manhã daquele dia, por volta das 11h, Simonton foi surpreendido por um som que descreveu como “pneus de inverno em pavimento molhado”. Ao olhar para fora, viu um objeto metálico e brilhante, com a forma de “dois pires ou pratos, um invertido sobre o outro”, pairando sobre sua propriedade antes de pousar suavemente em seu quintal.
Longe de sentir medo, a curiosidade de Simonton falou mais alto. Ele se aproximou do objeto, que tinha cerca de 4 metros de altura e 10 metros de diâmetro. Uma escotilha se abriu, e um ser apareceu. Simonton descreveu a tripulação (ele viu três seres no total) como tendo cerca de 1,50m de altura, pele morena, cabelos e olhos escuros, e vestindo roupas escuras e justas com gola alta. Ele notou que eles tinham uma aparência “italiana”.
Um dos seres segurava um jarro e gesticulou para Simonton, que intuiu que eles precisavam de água. Sem hesitar, Simonton pegou o jarro, encheu-o em sua bomba d’água e, ao retornar, percebeu que um dos outros seres estava cozinhando em um aparelho sem chama, parecido com uma grelha. Não houve comunicação verbal.
Notando a atividade culinária, Simonton gesticulou, indicando que estava com fome. Em resposta, um dos seres lhe entregou quatro pequenos “bolos” ou “panquecas”, quentes e com cerca de 8 cm de diâmetro, perfurados com pequenos furos. Agradecendo, o ser fechou a escotilha. O objeto então decolou verticalmente, sem fazer barulho ou deslocamento de ar, e desapareceu em segundos.
A Investigação e a Estranha Evidência Física
O que torna este caso tão robusto é o que aconteceu a seguir. Simonton, um homem considerado pela comunidade como honesto e sem propensão a fantasias, relatou o incidente ao xerife local. A história rapidamente atraiu a atenção da Força Aérea dos EUA.
O próprio Dr. J. Allen Hynek, o renomado astrônomo consultor do Projeto Blue Book, viajou para Wisconsin para investigar o caso pessoalmente. Hynek ficou convencido da sinceridade de Simonton, declarando que o fazendeiro parecia estar relatando a verdade como a viveu. Incapaz de encontrar uma explicação convencional, o Projeto Blue Book oficialmente classificou o caso de Joe Simonton como “Não Identificado”.
E as panquecas? Simonton comeu uma, descrevendo seu sabor como “semelhante ao de papelão”. As outras três foram entregues às autoridades. Uma delas foi enviada ao Laboratório de Alimentos e Medicamentos do governo (FDA) para análise. O laudo técnico concluiu que as panquecas eram compostas por ingredientes perfeitamente terrestres: farinha, trigo sarraceno e gordura. Eram comestíveis, mas nutricionalmente pobres. Havia, no entanto, um detalhe que muitos entusiastas da Ufologia destacaram como profundamente estranho: as panquecas não continham sal.
Análise: A Ausência de Sal e o Mimetismo Imperfeito
A ausência de sal se tornou um pilar para os defensores da hipótese extraterrestre. A explicação era óbvia para eles: os seres teriam uma biologia diferente, para a qual o cloreto de sódio (sal de cozinha) seria tóxico ou simplesmente irrelevante.
Contudo, sob a ótica crítica que propomos no “Anjos Mentirosos”, a ausência de sal reforça, na verdade, a ideia do fenômeno como um “ilusionista” e do caso como um exemplo de mimetismo imperfeito.
Pense nisso: se o objetivo é criar uma história que perdure, uma panqueca terrestre, mas sem sal, é o detalhe perfeito. É familiar o suficiente para ser crível (“panqueca”), mas “errada” o suficiente para ser memorável e gerar debate. É um gancho narrativo genial.
Essa característica sugere uma inteligência que compreende a química dos nossos alimentos (farinha, gordura), mas não a sua cultura ou propósito sensorial (o sabor, o tempero). É como um ator estrangeiro tentando imitar um nativo: ele acerta o vocabulário, mas erra o sotaque. O fenômeno parece imitar comportamentos humanos, como o escambo de “água por comida”, mas o faz de uma maneira que não faz sentido lógico, apenas simbólico.
Para um analista cético, o fato crucial é que a panqueca era feita de elementos 100% terrestres. A ausência de sal é uma anomalia menor que não altera essa conclusão fundamental. Para um analista da nossa perspectiva, essa anomalia não é uma prova de biologia alienígena, mas sim uma prova da genialidade do fenômeno em criar uma narrativa que nos fisga justamente por ser familiar e, ao mesmo tempo, ligeiramente “errada”.
O caso de Joe Simonton nos força a fazer perguntas mais profundas. Talvez a questão correta não seja “De que planeta eles vêm?”, mas sim “Por que este teatro absurdo foi encenado e quem é o seu diretor?”. Ele nos ensina que, para entender a Ufologia, precisamos parar de pensar apenas em termos de engenharia e astronomia e começar a pensar em termos de psicologia, sociologia e a arte do engano.